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Uma nova geração de mulheres

Updated: Sep 12, 2018

por Silvia Lobo


As mulheres de hoje fazem parte de uma ou duas gerações que desfrutam de possibilidades de escolha como nunca se viu antes na história.  A mídia mostra mulheres em ringue de luta, na direção de aviões, nas clínicas de modelagem do corpo, no usufruto da troca de parceiros e no exercício da sexualidade que lhe convém. Contudo, há no ar um lamento.


Por séculos, mulheres denunciaram a falta de direitos inalienáveis do humano que sobre elas se abatiam. Por gerações, mulheres lutaram – algumas até morreram – pelo fim dessa discriminação que contemplava homens e a elas proibia. E dessa luta, as mulheres conquistaram em muitas regiões do planeta – ainda que não em todas – os direitos mencionados de trabalhar, estudar, a caixa própria de e-mails, a independência econômica, o direito de ir e vir, acesso ao prazer sexual, ao voto, às funções políticas. Possuir carta de motorista, praticar esportes, falar outros idiomas e ainda, administrar dinheiro, seja o próprio, seja o de outros, pode ser somado a esta lista.


Mas, se ganhos houve, se benefícios foram auferidos nas conquistas feitas, se ficou para trás o trágico da dependência, da ignorância e da submissão, onde reside a queixa sincera, dolorosa, contundente, comovente que aparece na fala de muitas mulheres? Por que persiste um lamento?


A dor parece vir da ideia de que as mulheres foram enganadas. Sentem que o novo modo como se mostram ao mundo e se colocam na relação com os homens não recebe a aceitação desejada. Desenvolvem uma espécie de tese de que os homens prosseguiram buscando as mulheres ditas de antigamente, dependentes, que viviam em função da família. Fazem a denuncia do que não foi ensinado aos homens, que lhes impossibilita amar e se compor com essas novas mulheres. A sociedade é eleita como a grande culpada por esse ensinamento que não houve e carregaria a reboque os pais, pelo que fizeram e pelo que deixaram de fazer.


Essas mulheres trazem no que expressam a marca de um sofrido sentimento de solidão. Há um rancor subjacente que coloca as conquistas obtidas pelas mulheres no campo pessoal, social e político em posição inconciliável com o afeto e a generosidade na vida amorosa.


Se a libertação das mulheres implicasse nesse tipo de impedimentos, quão desastrosa teria sido!


De fato, há homens que se queixam das mulheres. Ainda que as amem e admirem pela inteligência, determinação e autonomia, dizem que são difíceis de agradar, dão ordens, ofendem-se com facilidade, muito suscetíveis a palavras e gestos que consideram fora do esperado. Ainda desadaptados ao novo tempo, assinalam que não querem perder as mulheres de hoje, mas sentem saudades das mulheres que, espontaneamente, demonstravam que eles eram importantes, que tinham valor, mulheres por quem podiam sentir-se amados, mulheres que os ouviam e, com quem, muitas vezes, podiam conversar. Talvez as queixas não sejam de todo infundadas.


Sabemos que mulheres foram privadas de si próprias por séculos e talvez, por temerem trair-se e perder o que tão arduamente conquistaram; talvez, por se defenderem de perigos que nem saibam bem quais são, fiquem arredias, e achem até mesmo difícil incluir o amor, em sua forma antiga, nessa nova proposta de parceria. Talvez, como mulheres, tenhamos de voltar à terra, propor ajustes e reaprender a viver com os homens. O que quer dizer a dois.


Há o que ser pensado.


Contudo, lembremos sempre, ainda que cansadas de muito trabalho, que fazemos parte de uma incrível geração de mulheres e temos muito pelo que nos orgulhar.

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